OS PROFESSORES DEVEM SE ENVOLVER NA VIDA PESSOAL DOS ALUNOS?
Está cada vez mais difícil ser um
bom professor no Brasil. Bom professor no sentido do verdadeiro educador, como
aquele que tudo faz para que o seu aluno melhore, e não aquele que o usa para
auferir benefícios próprios, como bens, ficar rico, famoso, poderoso etc.
O verdadeiro educador trabalha para que o aluno aprenda e melhore a sua própria vida.
O verdadeiro educador trabalha para que o aluno aprenda e melhore a sua própria vida.
Hoje, se a
educação fosse um trem, poderíamos dizer que há algumas realizando heroicas
diligências, outras como modernos trens, mas nenhuma delas tão avançada quanto
a tecnologia e os conhecimentos existentes, ou como são algumas empresas. César
Souza, grande executivo internacional, no seu recentemente lançado livro “A
NeoEmpresa”(Integrare Business) faz uma ótima analogia: “um trem bala em
uma montanha russa”. Isto, em grande parte, porque o Brasil é um país
rico com educação paupérrima.
A realização
dessas diligências nos mostra o quão fora de época se encontram algumas das
heroicas escolas, pois andam em locais sem trilhos, usando das energias humanas
dos professores, sem nenhum recurso a não ser o conhecimento e vontade de
ensinar. Não há como estes educadores não perceberem os problemas que os alunos
vivem, pois os relacionamentos são pessoais, um olhar nos olhos dos seus
alunos, que agradecem qualquer aprendizado. São heroicos pois abrem novos
caminhos e criam soluções.
Os trens
públicos são verdadeiras marias-fumaça públicas, com vagões e trilhos
precários, que precisam de constantes reparos para funcionar. Os trens privados
podem ser até mais atualizados e melhores equipados, mas seus princípios
pedagógicos ainda estão muito defasados perto do que poderiam ser e mesmo os
seus alunos estão ainda muito aquém do que se espera após um ensino fundamental
e médio.
Dia 14/4 fui
palestrar aos professores de Tapiraí, onde nasci, a 135km de São Paulo, no Vale
do Ribeira,um município que tem 8.500 habitantes. São 2.000 alunos para
frequentar três escolas: duas municipais e uma estadual. As municipais estão
organizadas e os seus 1.000 alunos têm suas aulas regularmente. A estadual
também tem 1.000 alunos e atende da 5ªsérie do Ensino Fundamental até o 3º ano,
mas há muita falta de professores titulares e os que trabalham são os eventuais
e, quando faltam, os alunos contam com os professores nomeados eventuais dos
eventuais. Houve um ano, por exemplo, no qual de uma só matéria não houve uma
única aula, e os alunos foram todos aprovados.
O trilho
existe, mas a maria-fumaça está praticamente parada. Alguns alunos têm ex-pais
que largaram as mães que têm que lutar pela sobrevivência. Só um exemplo em
entre muitas famílias que são desestruturadas, cujos adultos vivem em conflitos
e vícios e seus filhos “já fazem muito em ir para escola”...
Acredito que
os professores até têm como identificar, dentro da sala de aula, um aluno
doente, deprimido ou emocionalmente abalado. Mas ajudá-los pode se tornar uma
sobrecarga às tarefas que já têm, o que prejudicaria a sua vida pessoal e
familiar. Além disso, a própria família do aluno acaba responsabilizando a
escola pelos problemas que ele apresenta.
A grande
maioria dos professores públicos é desassistida. Quando assistidos (como nos
trens particulares), os professores já têm orientações para passaremos
problemas que os alunos estão tendo à coordenação. Entretanto, algumas destas
famílias cobram que as escolas tomem as devidas providências, pois
terceirizam-lhe a educação.
O grande
problema é que a maioria dos alunos no Brasil é prejudicada no seu aprendizado
e negligenciada na sua educação e saúde.
IÇAMI TIBA
Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Pais e
Educadores de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 28
livros
UOL – EDUCAÇÃO - 18/04/2012 - 17h49
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