Em média, eles só desenvolvem 80% dos conteúdos que deveriam
trabalhar. Dos docentes que lecionam para os alunos da 5.ª à 9.ª série da rede
pública de ensino fundamental de todo o País, 7.380 afirmaram que não conseguem
lecionar mais de 40% do currículo. E cerca de 27 mil afirmaram que conseguem
dar, no máximo, até 60% do programa previsto.
Os piores porcentuais de cumprimento do currículo estão no
Nordeste. Nos Estados do Rio Grande do Norte, Alagoas, Ceará e Maranhão, por
exemplo, quase 30% dos professores não conseguem cumprir a metade do programa
de suas disciplinas. Nesses Estados, o índice de docentes que conseguem cumprir
mais de 80% do currículo é de apenas 10%.
E como muitas escolas adotam o sistema de progressão continuada,
os alunos vão sendo promovidos sem aprender o mínimo previsto para o ano.
Por isso, quando terminam a 5.ª série, só 34,2% dos estudantes
têm conhecimento de português adequado à série e em matemática, apenas 32,5%.
Na última série, o rendimento cai ainda mais. Apenas 14,7% dos alunos têm
conhecimento de matemática adequado à série e em português o índice é de 26,2%.
"Isso acontece porque os conteúdos são cíclicos, retornam em anos
seguintes de forma mais complexa. Se o aluno não o aprendeu bem, não conseguirá
acompanhar na série seguinte", diz Maria Carolina Dias, da Fundação Itaú
Social.
Parte do problema é atribuída à formação deficiente do
professorado e à falta de um acompanhamento pedagógico das escolas.
"Muitos professores desconhecem o assunto, até porque dão aulas de disciplinas
correlatas. Um biólogo que é professor de matemática não vai cumprir todo o
conteúdo simplesmente porque não sabe. Muitos professores também abrem o diário
e veem na hora o que precisam fazer. Não pensam com antecedência. Para que isso
mude, é preciso um bom coordenador pedagógico, que acompanhe e tenha uma visão
global", afirma Carolina.
Outra parte do problema decorre dá má concepção dos programas.
Muitos currículos estão defasados. Alguns são excessivamente grandes e
ambiciosos, misturando temas ou valorizando modismos intelectuais, em
detrimento de conteúdos básicos. E há ainda currículos cujo conteúdo é
condicionado por maniqueísmos políticos.
"O currículo é o mapa de navegação de um sistema de ensino.
Aqui no Brasil, como não existem metas específicas de aprendizagem, fica
impossível averiguar que tipo de conteúdo o professor está ministrando e,
consequentemente, se o aprendizado do aluno está garantido", diz a
consultora e ex-diretora executiva da Fundação Lemann Ilona Becskeházy.
A reestruturação da rede pública de ensino fundamental enfrenta,
assim, dois desafios, segundo os especialistas. O primeiro é investir nas
escolas e nos professores, melhorando a qualidade da formação do docente. O
segundo é modernizar os programas, por meio de um currículo nacional coerente e
voltado para os conteúdos elementares. No passado, dirigentes do Ministério da
Educação tentaram definir um currículo nacional. Mas vários professores
resistiram, alegando que ele comprometeria a autonomia didática e pedagógica. E,
apesar de a Lei de Diretrizes e Bases afirmar que os Parâmetros Curriculares
Nacionais sejam definidos pela União em colaboração com os Estados e
municípios, muitos secretários municipais e estaduais de educação alegam que o
currículo nacional colide com a estrutura federativa do País. Enquanto não se
desatar esse nó, advertem os pedagogos, será difícil exigir que os professores
cumpram à risca currículos que estão em descompasso com a realidade do País.
O Estado de S.Paulo - 12 de junho
de 2012
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