São Paulo figura entre as três melhores posições do
Brasil quando o assunto é educação básica. Com suas cerca de 5 mil unidades,
muitas vezes com situações de vulnerabilidade extremamente distintas e
complexas, esta rede pode se orgulhar de algumas importantes bandeiras que
adquiriu ao longo dos anos. Mas orgulho não é sinônimo de conformismo. Ao
contrário. Novos desafios se impõem na medida em que avançamos.
Reduzir a educação a uma escala de proficiência é
alijar do processo educacional toda uma geração em constante mudança e
movimento. É ignorar o potencial transformador do conhecimento a partir da vida
e não exclusivamente da escola. Nossa missão enquanto gestores públicos,
portanto, é primeiramente admitir que, apesar da inclusão e de índices
educacionais melhores, a busca pela equidade nos distanciou do anseio daquele
que é figura central deste processo: o aluno. Permanecemos entregando uma velha
escola a um novo estudante.
Não há ineditismo em tal constatação e nem
privilégio paulista em tal cenário. Tampouco brasileiro. O mundo discute a
necessidade, inexorável, de um novo modelo de escola. E o nosso cenário não
poderia estar mais propício para mudanças. O Brasil vem sofrendo uma forte e
constante redução na quantidade de matrículas na rede pública de ensino.
Segundo dados do Seade, nas escolas estaduais de São Paulo há 2 milhões a menos
de estudantes em comparação a 1998. Além da diminuição da taxa de natalidade, a
municipalização e a migração de alunos para a rede privada são os responsáveis
pela inversão da pirâmide demográfica.
A queda de matrículas aliada a uma expansão urbana
desordenada em diferentes regiões nos submete a uma rede de escolas concebidas
para atender uma população que se transformou e anseia por mudanças. As
conquistas obtidas nos últimos anos pavimentaram a estrada que agora nos
possibilitará inovar mais uma vez. O governo Geraldo Alckmin dá início a partir
deste mês a um movimento histórico em suas unidades de ensino com foco na
construção de um novo modelo de escola e na melhoria do aprendizado.
Qualquer que seja a ação à luz da construção de uma
escola mais próxima do jovem, ela passa necessariamente por uma reorganização
da rede, concentrando na mesma unidade alunos da mesma faixa etária e
concebendo um ambiente mais propício para a aprendizagem. Escolas que atendam
alunos do mesmo segmento de ensino ou de segmentos próximos entre si terão
condições não apenas estruturais, mas sobretudo pedagógicas, para articular o
espaço e o tempo a serviço do currículo. Indicadores da Secretaria e do próprio
Inep indicam que escolas de ciclo único têm resultado 10% superior às unidades
de três segmentos.
Onde for possível, separaremos crianças de 6 ou 7
anos de adolescentes de 15, 16 e 17 anos, para que ambas faixas etárias recebam
ambientes e ferramentas focadas em suas necessidades. Estimativas prévias
apontam que é possível crescer em 30% o número de escolas com um só ciclo de
ensino (do 1º ao 5º ano, do 6º ao 9º ano ou médio). Em muitas outras haverá uma
organização para se ter os dois ciclos do fundamental.
O esforço para a mudança é de todos, professores,
diretores, funcionários e, claro, pais e alunos. Não é tarefa simples. Mas os
meses de planejamento e estudos nos dão segurança de que estamos no caminho
certo. O mapeamento das vagas ociosas, realizado por georreferenciamento,
confere aos responsáveis, estudantes e funcionários a garantia de um
deslocamento máximo de 1,5 quilômetro a fim de minimizar os contratempos e
facilitar a vida das famílias. Meu compromisso não é com os prédios escolares,
mas com o dever enquanto gestor público e, sobretudo, educador de oferecer um
ambiente escolar de mais qualidade.
É com uma escola voltada para a criança pequena,
para a criança pré-adolescente ou para o adolescente que São Paulo dá mais um
passo pela melhoria da qualidade de ensino. Limitar o aprendizado aos muros da
escola é supor que ele se dá exclusivamente pela perspectiva dela. A
prepotência de imaginar que detemos a fórmula de ensinar fez do aluno espetador
de um processo que nasce a partir e somente por ele. Repensar a estrutura,
portanto, é o primeiro passo para legitimar o seu lugar e modificar a cultura e
a função social da escola pública.
Herman
Voorwald
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