"A verdade é que o ensino
público está à orla do limite possível a uma nação que se presume livre e
civilizada; é que somos um povo de analfabetos, e que a massa deles, se
decresce, é numa proporção desesperadoramente lenta; é que a instrução
acadêmica está infinitamente longe do nível científico desta era; é que a
instrução secundária oferece ao ensino superior uma mocidade cada vez menos
preparada para o receber."
Embora escritas em 1882, as palavras de Rui Barbosa na Comissão de Instrução Pública da Câmara dos Deputados do Império
servem como um retrato acurado da educação brasileira no século 21. E pior: a
julgar pelo ritmo de avanço nos últimos anos elas continuarão atuais por longo
tempo. O erro se repete sempre na ação,
por isso é preciso repisar incansavelmente a vergonha em palavras.
Exagero? O cardápio de horrores é
vasto e os problemas existem em todos os níveis educacionais, mas é no ensino
médio que se concentram os piores resultados.
Em 2013, como acaba de divulgar a
ONG Todos pela Educação com base na PNAD, só 54,3% dos jovens conseguiram
concluir o ensino médio até os 19 anos, sendo que nos 25% domicílios mais
pobres o número cai a 32,4%. O índice mantém-se estagnado desde 2009.
A qualidade não fica atrás. Na
última avaliação do Pisa –que mede a capacidade dos jovens em 65 países de
raciocinar e solucionar problemas de forma independente–, da OCDE, 67% dos
nossos alunos de 15 anos careciam de formação mínima em matemática, 19% em
leitura e 54% em ciência.
Entre os que conseguem terminar o
grau médio, segundo pesquisa de campo do Instituto Paulo Montenegro do Ibope em
2012, só um terço tinha alfabetização plena (redação, compreensão de texto e
aritmética básica).
São números de arrepiar, mas
ainda mais chocante é a negligente complacência diante desse quadro. Eleição
após eleição, o enredo se repete: o patronato político se desdobra em promessas
ousadas e faz da educação "absoluta prioridade". Terminada a
campanha, é o que se vê. A sociedade civil, por sua vez, consente: uma enquete
revela que apenas 21% da população considera o ensino público péssimo.
O futuro do Brasil não será
decidido nas reuniões do Copom, nos pregões da Bolsa ou nas profundezas do
pré-sal. Ele será decidido nas milhares de salas de aula da nossa imensa nação.
A qualidade da educação em qualquer lugar do mundo não pode superar a qualidade
dos seus professores. Eis o nó da questão.
O estado deplorável do ensino
básico e a brutal desigualdade de oportunidades educacionais respondem pela
pior chaga da vida brasileira –o equivalente moral da escravidão no século 21.
Eduardo Giannetti - 12/12/2014 - 02h00 – Folha de São Paulo
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