Precisamos pensar no tipo de
educação que temos proporcionado aos mais novos e naquela que idealizamos, que
queremos e que, inclusive, cobramos deles. Hoje, vamos refletir sobre como
acontecimentos do cotidiano têm interferido na formação de nossos filhos,
alunos, netos etc. Como gosto de fazer, vou partir de alguns exemplos da vida
real.
Outro dia eu assisti a uma cena
envolvendo dois motoristas, um deles com uma criança –provavelmente filho– de
cerca de nove anos.
Uma motorista, velha senhora,
estava com dificuldades para atravessar um cruzamento sem semáforo. Atrás dela,
um homem buzinava insistentemente. Alguns segundos foram suficientes para ele
perder a paciência e fazer uma manobra brusca para sair de trás do carro da
senhora. Não contente, abriu sua janela e vociferou: "Deveria ser proibido
velha dirigir!". O garoto, que estava no banco traseiro, também abriu a
janela e gritou várias vezes: "Sua vaca!". Não pense, caro leitor,
que a motorista não reagiu: ela levantou o dedo médio aos dois.
As outras situações me foram
contadas por mães: a primeira tem um filho de seis anos e a outra, uma filha no
último ano do ensino médio. As duas ficaram preocupadas com o próprio
comportamento depois de ouvirem seus filhos.
O garotinho, que não queria
aceitar as ordens da mãe, dirigiu a ela um "Filha da p..." em alto e
bom som. A mãe ficou alguns segundos perplexa e perguntou a ele com quem ele
tinha aprendido aquele palavrão. A resposta foi imediata: "Com você e com
meu pai".
No terceiro caso, a filha contou,
ao chegar da escola, que havia presenciado uma briga violenta entre colegas em
razão da escolha de candidatos nas últimas eleições. A mãe disse que falou a
ela sobre respeito, tolerância, diversidade etc., e ouviu da filha: "É,
mas nos seus posts do Facebook você diz coisas parecidas com as que meu colega
disse e que provocaram a briga".
Já sabemos que, em pleno século
21, não são apenas família e escola que educam: todas as mídias, peças
publicitárias, estilos de vida urbana, comportamento no trânsito etc. influenciam
fortemente a formação de crianças e jovens que, como sempre, percebem e
identificam todas as questões envolvidas em um fato aparentemente simples.
Queremos que nossos filhos
cresçam e alcancem a maturidade. No entanto, nem sempre temos sido capazes de
controlar nossos comportamentos infantis e de demonstrar o que a vida adulta
exige.
Temos, por exemplo, demonstrado
dificuldades em administrar nossos impulsos agressivos e narcisistas: temos
expressado ideias –por escrito ou oralmente– de modo intempestivo e violento,
temos apontado que a história é única e é aquela que sabemos e contamos; que o
importante é ganhar sempre e que perder admite qualquer tipo de comportamento;
e que falar é sempre mais valioso do que escutar, refletir e reconsiderar,
entre outras coisas.
Não somos, nem devemos querer
ser, modelos para os mais novos, porque precisamos –e como!– que eles sejam
melhores do que nós. Mas podemos e devemos mostrar maturidade: contenção,
reconhecimento e respeito às diferenças, controle na expressão de nossos
preconceitos e impulsos de todos os tipos.
Agora é a hora de nos
perguntarmos: como queremos que nossos filhos sejam educados? Nossas atitudes é
que dirão.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora
de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
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